Discussão Literária: Literatura jovem, a "escuridão e seu valor


Literatura jovem, a "escuridão e seu valor





Olá, aqui estou eu com mais uma discussão literária pra vocês! Desta vez o tema é um pouco mais polêmico: 'escuridão' em YA.
Alguns de vocês já devem ter visto os vários tweets, posts de blogs internacionais e  vídeos que apareceram no youtube sobre o assunto uns meses atrás e até mesmo participado da discussão. O fato é que uma colunista de um jornal americano escreveu um grande artigo sobre como os livros voltados para o público jovem estão ficando cada vez mais 'dark' e tratando de assuntos muito sérios como estupro, depressão, violência doméstica, entre outros tópicos que, teoricamente, não deviam ser discutidos por adolescentes. Além disso, a colunista tratou o gênero com pouco caso, e o público adolescente como incapaz de discutir racionalmente os temas mencionados. O que gerou -é CLARO- uma grande polêmica no mundo literário virtual, que consiste, em sua grande maioria, de fãs de jovem-adulto





Ok, apesar do artigo ter sido a causa da grande discussão, não podemos dizer que é uma opinião nova. Quem nunca teve vergonha de andar por aí com um livro que é obviamente YA? Quem nunca escutou a frase "isso não é livro de verdade", ou uma de suas variações? Afinal, o preconceito com esse tipo de literatura é grande. Os fãs de literatura mais adulta normalmente olham pra livros adolescentes com certo desprezo, mesmo sem nunca ter lido um. A pergunta é: por que razão?
Existem livros terríveis no gênero, é claro, mas também existem livros maravilhosos, e muitos dos grandes clássicos de hoje em dia foram escritos para o público jovem!
Ao contrário do que expressou a colunista em seu artigo, livros YA são, em minha opinião, necessários. Vamos pegar como exemplo a tão comentada trilogia Jogos Vorazes. Cheia de violência e citada pela colunista americana como bastante inapropriada, a série nos transporta ao futuro e, por meio dos cruéis Jogos Vorazes nos faz refletir sobre liberdade, sobre o poder da mídia, do governo e, também, sobre como podemos mudar as coisas. Como podem dizer que não há mérito algum nisso?
Literatura YA discute temas que tem que ser debatidos! Vício em drogas, violência urbana, suicídio, todo o tipo de tabu encontra seu lugar nesse gênero, e quantas são as histórias de adolescentes que foram ajudados pelos livros a superar uma parte difícil de suas vidas?
E mesmo aqueles que não discutem tópicos profundos e servem como pura distração tem seu momento e mérito. Afinal, quantas pessoas teriam lido grandes clássicos por prazer sem antes ter aprendido a amar a leitura em si? E muitas vezes o amor pela leitura começa pelos livros adolescentes e infantis. A geração mais jovem têm se aproximado novamente da leitura e mesmo que isso se dê por livros como os da série A Morada da Noite -de que eu, particularmente, não gosto- não tenho razões para ver defeitos nisso. A simples aproximação dos livros é válida e deve ser comemorada.
O que penso é que desprezar um livro e até um gênero inteiro por conta da idade de seu público alvo é, no mínimo, uma estupidez.

E vocês, qual é a opinião de vocês? Acham que o os temas discutidos são mesmo inapropriados? Compartilhem seu ponto de vista!

4 comentários:

Vulcka disse... [Responder comentário]

Que me perdoem os críticos, mas a vida não veio com receita. Se um jovem é emocionalmente fraco para ler um YA Dark, então esse mesmo jovem não tem a menor condição de pegar nas mãos um livro de literatura adulta. E, se um jovem não pode se interessar por literatura adulta, então um adulto é terminantemente proibido de ler YA, histórias em quadrinhos e tudo o mais que não condiz com a atual faixa etária. Isso está certo?
Sinceramente, o livro é uma fuga da realidade, é adentrar em um novo mundo. Proibir um tipo de leitura tendo em vista que não seria sadio para o intelecto juvenil, é um passo para impedir que o adolescente tenha o direito de escolher o mundo que quer conhecer. Daqui a pouco estarão escrevendo livros-palestra que ensinem a importância de usar camisinha. Não que não seja importante, mas quem é que pensa "oh, hoje estou afim de assistir uma palestra educativa"? É realmente um jeito muito prático de fazer os jovens pararem de ler.
E, também, certa vez ouvi que os gibis da turma da Mônica não deveriam ser lidos por crianças, senão elas pensariam ser correto não tomar banho, como o Cascão, ou falar errado, como o Cebolinha. Discordo veementemente! Ler a turma da Mônica e depararar-se com o fato do garoto não gostar de tomar banho, incita a mente a funcionar: Por que ele não toma banho? Isso é Correto?
E aí, "Tcha-raaam", formou-se a OPINIÃO. E, cá entre nós, neste mundo acéfalo em que vivemos, pessoas com opinião própria, com capacidade de distinguir o certo do errado, com argumentos elaborados, o que deriva dessa leitura que querem proibir, são essenciais para a sobrevivência dos demais. Os dois lados da moeda devem ser apresentados, cara e coroa, e isso não modifica o fato de o coroa ser escolhido, já que é o lado que tem "valor" (entre aspas, para a metáfora soar mais clara).
Eu li A Turma da Mônica a minha infância inteira e graças àquelas páginas cansadas eu me tornei uma leitora, aprendi a diferença entre as palavras e a amar esse universo literário. Se precisava de uma prova, ta aí.

Enfim, "nunca ouvi uma criança dizer: Quando crescer quero ser crítico!". Não lembro de quem é essa frase, mas ela diz tudo.

Anônimo disse... [Responder comentário]

Uma criança quando apresentada a um livro, desenho, ou o que quer que seja, é levada a fantasiar, quando ela fantasia ela desenvolve aspectos cognitivos extremamente importantes.
O fato de um adolescente ler um Ya, também o leva a um mundo de fantasia, que até certo ponto serve como uma forma saudavel de fuga da realidade, de conhecer coisas novas..., o problema talvez (não li o artigo que gerou toda a polemica, por isso uso o talvez) a leitura seja usada como forma de fulga, de forma que se misture a realidade de alguns individuos (não que todos façam isso)e TALVEZ o receio de quem diga que determinada faixa etaria não deva ser exposta a conteudos para qm é mais velho, seja o medo de que a pessoa por sua pouca idade não distingua o que é real do que é apenas uma história bem esrita e sustentada (fundamentada no sentido em que o autor consegue fazer sua historia coerente do começo ao fim)...

MAS é tudo uma questão de opinião,e cada qual deve ser respeitada

Ana disse... [Responder comentário]

Vou opinar como escritora (principalmente para jovens, mas também de contos adultos considerados bem dark), como bibliotecária, como mediadora de leitura e como mãe de uma menina de 11 anos.

Para mim, existe uma grande diferença entre o conteúdo e a forma. Sim, os dois são complementares num texto literário, mas o que está em discussão não é a excelência ou a qualidade do texto e sim a adequação à faixa etária, então podemos tratar disso separadamente.

Para começar, o conteúdo. Na minha opinião, nenhum tema precisa ser excluído da literatura para jovens adultos ou mesmo da infantil. Pode-se falar, sim, de morte, fome, guerra, violência, estupro, tudo, porque nenhuma criança está livre de passar por essas situações (infelizmente) ou delas ouvir falar na televisão, no jornal ou na escola. Outro dia, por exemplo, tive uma conversa difícil e delicada com minha filha sobre aborto, já que ela havia visto imagens bem chocantes em um site - chegou lá por intermédio de uma amiga que lhe enviou link para um texto do tipo "carta de uma criança que não nasceu".

Enfim. Guerra, morte, violência, tudo isso existe. E os livros, para que existem? Para a gente fugir pra dentro deles, como disseram acima? Talvez, mas principalmente para a gente encontrar apoio para enfrentar a realidade. Os livros são um abrigo, são amigos, são explicadores, são motivadores de sonhos, esperança e questionamento. E seja numa história sobre a guerra no Iraque, sobre um menino de rua ou sobre um órfão que encontra um ovo de dragão, a literatura ajuda a gente (jovem ou não) a compreender, elaborar e lidar com nossas dúvidas e medos.

Pois é. Essa é minha opinião sobre o conteúdo. Mas, quanto à forma, penso um pouco diferente. Vamos refletir: quando a gente vai dar uma notícia ruim a alguém, procura o jeito certo de falar, não é? Suponha que uma senhora morre num acidente e deixa dois netos que a adoravam, um de 20 e poucos anos e outro de 11 ou 12 anos. Você dá a notícia para os dois do mesmo jeito? Se um deles tem de reconhecer o corpo, ver a avó depois do acidente, qual deles é chamado? E, no entanto, os dois vão saber que a avó morreu e ter que lidar com a situação.

Acho que já deu para entender meu ponto de vista. Infelizmente, na vida real, algumas situações não poupam as crianças, mas a literatura tem como usar um filtro: o da adequação à faixa etária. Você tem como falar sobre o Mal, sobre ameaças reais ou sobrenaturais, sem fazê-lo de forma gráfica - ou melhor, dosar a quantidade e a intensidade de elementos de violência, perturbadores e sinistros que irão aparecer no texto. Já li livros para jovens que me deixaram impressionada com certas descrições, enquanto outros tratam de temas também sinistros e conseguem fazê-lo de forma menos perturbadora, mas igualmente poderosa. E acho que isso deve ser feito.

Agora, como é feito, isso depende do autor e do efeito que ele realmente
quer criar, bem como do jovem que lê. Aos 11 anos minha sobrinha abandonou "Desventuras em Série" porque não suportou as maldades feitas contra os irmãos Baudelaire; minha filha está adorando. Conheço um jovem de 14 anos que amou o tal livro que não me deixou dormir. Enfim, não é apenas a idade que vai dizer o que é adequado, mas também a personalidade e os gostos de cada um.

E, enquanto eles são jovens, cabe aos pais acompanhar essas leituras, sem as proibir (o pior erro que se pode cometer é proibir um jovem de ler algo), mas sabendo do que se trata e estando disponível para dialogar e debater se surgir alguma coisa perturbadora.

Obrigada a quem leu até aqui. Este é um assunto que realmente vale a pena.

Miin Trindade disse... [Responder comentário]

Ah, é muito legal ler as opiniões de cada um de vocês. É bom ver que o assunto interessa e "ouvir" o ponto de vista de cada um sobre o assunto. Muito interessante. Obrigada pelos comentários :D

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