Sehn Hadjakkis é um garoto prestes a passar pelo momento mais importante de sua vida e assim se tornar perante a sociedade onde vive, um homem. Porém esse instante que deveria ser de alegria gera dúvidas e receios nele, pois vindo de uma família tradicional há temores que Sehn gostaria que não se tornassem reais.
Sehn é um bnei shoah, uma raça de guerreiros, espiões, profetas e sacerdotes que num passado não muito distante libertaram a humanidade do domínio maligno e opressor dos Titãs e hoje integram a poderosa Kaballah, principal força do exército do Quinto Império. Seus pais assim como os avôs e antepassados destes sempre fizeram parte de Sephiroth importantes dentro da organização, como os kohanim e os mashiyrra. Porém além de toda essa pressão por conta do passado, o jovem também lida com o conflito de até o momento do seu mitzavh, o ritual que o tornará um homem e soldado da Kaballah, além de não ter nenhuma marca que defina de qual Sephira ele faz parte.
E no cerne de todas as suas preocupações, mais profundo do que o medo de falhar diante de seus pais e da sociedade, esta a dor de se separar de seu amor, Maya Hawthorne. Entretanto Sehn irá descobrir que seus problemas atuais são muito menores do que os que ainda virão.
O Baronato de Shoah – A Canção do Silêncio, romance de estréia de José Roberto Viera pela Editora Draco, foi uma daquelas boas surpresas que temos quando apostamos na compra de um livro de um gênero um tanto desconhecido por nós. Sendo considerada a primeira obra Steampunk publicada no Brasil e uma das poucas a trazer a temática retrofuturista para o campo da Alta Fantasia e não a tradicional ficção científica, O Baronato de Shoah e seu autor, me surpreenderam com suas descrições e personagens, cada qual único e interessante para lhe deixar fixo na leitura.
E se há uma palavra capaz de sintetizar toda a obra, diria que esta é surpreendente. Desde a criação do mundo, com as separações entre os bnei shoahs e os ggoyim, pessoas normais que não lutaram contra os Titãs, seu sistema político e religioso que doutrina a vida dos cidadãos do Quinto Império assim como as várias cenas de ação espalhadas pelos livros mostram a grandiosidade do enredo e a dedicação do autor ao construir cada elemento deste.
Como dito antes, em O Baronato de Shoah seu autor valeu-se da temática Steampunk, porém usada num cenário fantasioso. A principal característica do gênero é uma união entre o passado, em geral ambientado entre o final do século XIX e início do XX, e os aparatos tecnológicos dos tempos contemporâneos, como computadores, automóveis e celulares, obtidos a partir da tecnologia existente a época. Assim sendo, em geral temos zepelins, submarinos e automóveis movidos a vapor, implantes mecânicos e dezenas de parafusos, engrenagens e porcas para todos os lados. E em alguns casos também temos o nascimento dos primeiros aparelhos elétricos e com outras energias alternativas, como a Nepl ou Névoa na obra de José Roberto Viera.
Trazendo esse modelo para o campo da Alta Fantasia o autor não apenas utilizou-se destes elementos assim como criou monstros biomecânicos, como ciclopes e dragões com couraças e outros membros feitos de aço e ferro, presenteou seus leitores com grifos repletos de engrenagens além armaduras e armas energizadas pela Nepl. Além de alguns traços bem sutis de magia permeados em meio aos vapores e rodas dentadas.
E adicionando um clima exótico ao conjunto, José Roberto Vieira se valeu de terminologias e conceitos presentes na religião judaica, e altamente difundida no mundo pelos vamos, Cabala. Termos anteriormente citados como kohanim, mashiyrra, mitzavh, Sephirah, cujo plural é Sephiroth, entre outros fazem parte das páginas do livro em abundância, porém não causam confusão durante a leitura, pois cada um destes é explicado dentro do contexto da história de maneira intrínseca ao desenvolvimento desta e ainda há a possibilidade de consultar o glossário localizado ao final do volume para quaisquer dúvidas. Assim podemos entender a estrutura da Kaballah onde cada Sephirah é uma das diversas especializações dos bnei shoah que são vitais para a existência do Quinto Império assim como suas equivalentes que fazem parte da Árvore da Vida e suas emanações dentro do conceito religioso.
Mas estender demais essas explicações seria revelar muito sobre a trama e estender demais o texto, portanto vamos ao enredo. A história de O Baronato de Shoah se desenvolve a partir do momento em que o protagonista, Sehn Hadjakkis, se vê diante do momento mais importante de sua vida, porém antes desta temos dois capítulos ‘soltos’ que a princípio não fazem sentido embora sejam fundamentais no desfecho da obra.
É sob esse conflito de Sehn que vemos sua evolução diante dos desafios cada vez maiores e as perdas que se mostram insuportáveis ao longo do tempo. E não somente ele como os outros personagens também apresentam mudanças visíveis, em alguns momentos até aceleradas demais, e primam por serem distintos entre si. Um importante fato com relação à obra é a maneira como o autor sobre utilizar bem cada personagem criado, dando a eles importância e profundidade durante toda a história sem cair na mesmice.
As motivações dos personagens e o viés que liga toda a trama são interessantes por se apresentarem de dois modos antagônicos em momentos diferentes do livro assim como a revelação final que costura algumas pontas deixadas ao longo da narrativa. E o desfecho deixa várias perguntas a respeito do que acontecerá no próximo volume intitulado A Máquina do Mundo e com expectativas maiores com relação ao futuro dos bnei shoah.
Entretanto há dois pontos cujo livro pecou em minha opinião. O primeiro deles tem a ver com o ritmo da narrativa. Este é um livro rápido tanto de ser lido quanto no transcorrer das cenas e é justamente isto que atrapalha em alguns momentos. Dada a velocidade dos acontecimentos em um pequeno intervalo de tempo podemos vir a perder o entendimento. O que também ocorre em alguns trechos com mais ação, onde o desenvolvimento ganha ares de sequências de tomar o fôlego, dignas de cinema, e que numa leitura rápida causam confusão. O livro é relativamente pequeno, com pouco mais de duzentas e sessenta páginas, e acho que a inclusão de algumas outras, para dar mais vazão a essa velocidade, teria sido um bom adendo a edição.
O segundo ponto é diretamente ligado ao foco narrativo, no caso de O Baronato de Shoah a terceira pessoa com o narrador onisciente. Este é um ótimo recurso, pois permite expor as sensações e impressões de vários personagens durante a cena, porém, a meu ver, acaba por diluir também a atenção do leitor, lançando muitas informações em um único momento. Embora eu não tenha sentido esse tipo de desconforto atrapalhar o entendimento e avanço da leitura, creio que se o autor houvesse optado por utilizar de pontos de vista fixos em diversos personagens teria sido melhor.
Para finalizar devo ressaltar que este foi um dos melhores livros editados pela Draco quanto à parte gráfica e diagramação. Desde a capa até o miolo e seus detalhes, a editora acertou, colocando imagens fortes e desenhos que remetem a temática da obra e inspiraram o autor. E é preciso ressaltar a ousadia da mesma por apostar em um gênero desconhecido quando todas as grandes editoras prezam mais aqueles em evidência. Isso mostra o quanto ela acredita no cenário nacional e o quanto está disposta a promover nossos autores com suas obras de excelente qualidade.
Reiterando, esse foi um dos livros que mais tive o prazer de ter lido durante esse ano, devorando cada capítulo rapidamente. Ainda que tenha esses pontos dos quais não agradei, não acredito que tenha prejudicado a história que se mostra adulta e ao mesmo tempo inocente desde o primeiro instante. E que esse seja o primeiro de muitos outros romances Steampunks a nascerem por aqui, um estilo que com seu requinte vitoriano e a tecnologia a vapor tem grandes chances de encantar e ser encantador.
Título Nacional: O Baronato de Shoah – A Canção do Silêncio
Autor: José Roberto Vieira
Ano de Lançamento: 2011
Número de Páginas: 264 páginas
Editora: Draco
Onde Comprar: Livraria Estronha – Saraiva
Sinopse: O Baronato de Shoah – A Canção do Silêncio é o romance de estreia de José Roberto Vieira, uma emocionante aventura épica em um mundo fantástico e sombrio. Passado, presente e futuro se encontram com a cultura pop numa mistura de referências a animações, quadrinhos, RPG e videogames. Considerado o primeiro romance nacional pensado na estética steampunk, o mundo de O Baronato de Shoah une seres mitológicos como medusas e titãs a grandes inventos tecnológicos. Desde o nascimento os Bnei Shoah são treinados para fazerem parte da Kabalah, a elite do exército do Quinto Império. Sacerdotes, Profetas, Guerreiros, Amaldiçoados, eles não conhecem outros caminhos, apenas a implacável luta pela manutenção da ordem estabelecida. Depois de dois anos servindo o exército, Sehn Hadjakkis finalmente tem a chance de voltar para casa e cumprir uma promessa feita na infância: casar-se com seu primeiro e verdadeiro amor, Maya Hawthorn. Entretanto, a revelação de um poderoso e surpreendente vilão põe Sehn perante um dilema: cumprir a promessa à amada ou rumar a um trágico confronto, sabendo que isso poderá destruir não só o que jurou amar e proteger, mas aquilo que aprendeu como a verdade até então.
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Por Gutemberg Fernandes! Apaixonado por literatura fantástica, principalmente a vampírica e de Alta Fantasia! Espero que gostem das obras trazidas por mim até vocês!
6 comentários:
Quando eu vi no Skoob que tu tava lendo, pensei que fosse um livro sobre orquestra... hasuhaushua
Ainda não tinha escutado falar do gênero Steampunk. Ficção científica não chama muito a minha atenção, porém alta fantasia sim, então parece ser um livro muito bom.
A resenha, como sempre, está ótima! Passa bem a essência do livro *-*
Hummm acho que irei mudar de direção as minhas leituras, achei interessante o genero Steampunk, e algo que gosto, principalmente essa mistura do futuro com o passado (ser uma coisa doida, porque vc imagina que eles reformularam passado deixando mais futuristico), mas na verdade eles adaptaram o futuro no antigo, acho que irei ler algum livro do genero para entender melhor.
Uma dica maninho, quando tiver um genero diferente, vc podia dar umas dicas de livros.
Maninho parabéns pela resenha!
opa , obrigado pelo espaço, pessoal!
Espero que seus leitores gostem do livro!
MENINO!!!! como vc lê, heim?!
affmaria! queria ser assim =]
Gostei da capa e o gênero é novo para mim :)
Bjs
Bom, nunca tinha ouvido falar sobre esse gênero Steampunk também. É novidade pra mim.
Não vou dizer que gostei muito do livro, não sei porquê, mas não me chamou muita atenção, talvez porque eu nunca tenha lido né, se eu lesse desse tipo de livros talvez eu gostasse, mas enfim ...
Sua resenha ficou boa, descreveu muito bem a história, abordando muito bem o que você gostou ou não nele. Parabéns Guto.
Claudia F.
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