Neuromancer – William Gibson

 

Case era um dos melhores hackers, ou cowboys como são mais conhecidos dentro do Sprawl, que muitos já haviam visto. Porém essa fama somada a ambição e o desejo de correr riscos fizeram com que o jovem sofresse um grande dano ao ser descoberto tentando roubar seus patrões.

Agora ele é apenas um excluído do mundo virtual, com seu sistema neurológico destruído e incapaz de se conectar a matrix, o ciberespaço onde um dia ele foi um rei. Perdido nas ruas sujas de Chiba, Case está próximo de dar a cartada que irá por fim em tudo. Mas antes que isso aconteça, ele conhecerá pessoas que lhe farão ver o mundo de outra forma.

Essa é a premissa com que nos apresenta a Neuromancer, o primeiro, e até hoje mais importante romance, de William Gibson. Considerado como um dos precursores do subgênero Cyberpunk, e um dos que alavancaram o Steampunk, Gibson surpreendeu o mundo em 1983 quando publicou o primeiro livro a ter uma história completa se passando no seu futuro cibernético onde todos estão conectados e tudo que existe pode muito bem ser apenas uma alucinação coletiva.

Nesses quase trinta anos desde sua publicação, Neuromancer foi um divisor de águas e acima de tudo inspiração para muito do que veio nos anos seguintes dentro do subgênero literário assim como ganhando outras mídias, sendo que Matrix e Ghost in the Shell podem ser consideradas as obras que mais beberam deste livro. Inaugurando as publicações Cyberpunk, ao lado de nomes como Bruce Sterling, Pat Cadigan entre outros, Gibson criou um mundo onde a tecnologia evoluiu a olhos vistos ao mesmo passo em que a sociedade, seus valores e governos, foram se degradando e tornando-se descartáveis, sendo substituídos assim pelas grandes corporações. Por conta disto derivou-se o termo em inglês high tech low life (alta tecnologia e baixo nível de vida) que permeia as páginas dos livros do subgênero.

Valendo-se deste cenário o autor criou tramas intricadas, delírios virtuais e reais, mercados negros onde o ser humano é apenas mais um console para ter novos hardwares adicionados e misturado a tudo isso um clima repleto de espionagem virtual e teorias de conspiração. Somente por isso Neuromancer já poderia ser considerado um livro muito bom, porém a genialidade de William Gibson, e sua ignorância com relação a técnicas de programação e informática, conseguiram traçar uma história que mesmo complexa em suas partes apresenta um fim coeso e estruturado.

Um fator curioso durante a leitura é a incapacidade de definirmos os antagonistas até que os capítulos finais cheguem assim como temos dificuldade em alguns momentos para notar se algo é real ou ilusório.

Desde a primeira página até o desfecho somos bombardeados com reviravoltas engenhosas, questionamentos por parte dos personagens e flashbacks que lhe fazem se perguntar ao final de cada capítulo qual o rumo terá o próximo. As cenas eletrizantes de ação contribuem para isso, criando uma camada de tensão sobre cada ato, e os diálogos, construídos de forma inteligente, deixando muitas vezes peças soltas do quebra-cabeça soltas em meio a eles. Isso pode desorientar o leitor, fazê-lo se perder em meio ao que Case está passando, mas é justamente nesse ponto que se encontra o charme de todo o livro: a busca por respostas e entendimento lhe convida a virar as páginas rapidamente e cada vez mais.

A construção, algumas vezes de forma literal, dos personagens é outro dos pontos altos do romance. Representando de maneira exemplar cada um dos estereótipos criados por Gibson, o grupo formado pelo cowboy Case, a samurai geneticamente modificada Molly e, o misterioso contratante dos dois primeiros, Armitage aos poucos vamos conseguindo adentrar nas reentrâncias das personalidades destes e descobrir suas motivações e ambições. Assim como alguns personagens secundários que embora não apareçam por muito tempo são importantes para a trama e permitem traçar nuances mais profundas dos protagonistas.

Para leitores que não tenham certa familiaridade com o gênero da ficção científica o livro pode causar algum estranhamento quanto a postura dos protagonistas ao longo da história. Como é comum dentro do Cyberpunk os personagens não tem tendências heróicas como vistas em outros romances, mas sim uma busca pela auto-preservação e um niilismo com relação aos poderes que regem a sociedade. E em Neuromancer isso fica bem claro conforme o desfecho se aproxima e Case tem em mãos uma decisão importante cujas conseqüências ele desconhece.

Quanto à dificuldade de leitura, eu diria que Neuromancer é um livro que só deve ser lido quando você quiser realmente lê-lo. E agora explico o motivo: dadas as peculiaridades da narrativa e a concepção de mundo proposto pelo autor é fácil se perder dentro destes em durante um desvio de atenção, o que irá tornar a compreensão final da obra um problema. Tendo tempo, porém, se mostrará um universo surpreendente e fascinante que é somente a porta de entrada para algo ainda maior.

Este é o primeiro volume da chamada Trilogia do Sprawl e se completa com Count Zero e Monalisa Overdrive todos publicados pela Editora Aleph no Brasil. Outras indicações de livros semelhantes seriam Piratas de Dados e Tempo Fechado de Bruce Sterling, este último publicado pela Devir, Cyber Brasiliana de Richard Diegues e a antologia Cyberpunk, ambos da Tarja Editorial, e um romance com influências do subgênero, Guerra Justa de Carlos Orsi da Editora Draco.

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Título Original: Neuromancer

Título Nacional: Neuromancer

Autor: William Gibson

Ano de Lançamento: 2008

Número de Páginas: 308 páginas

Editora: Aleph

Onde Comprar: Saraiva

Sinopse: Um hacker renegado, uma samurai das ruas, um fantasma de computador, um terrorista psíquico e um rastafari orbital num thriller sexy, violento e intrigante. De Tóquio a Istambul, das estações espaciais ao não-espaço da realidade virtual, o tenso jogo final da humanidade contra as Inteligências Artificiais...
Evoluindo de Blade Runner e antecipando Matrix, Neuromancer é o primeiro - e ainda hoje o mais famoso - livro de William Gibson. É considerado não só o romance que deu origem ao gênero cyberpunk, mas também o seu melhor representante. Edição especial com nova tradução, nova capa e projeto gráfico, novo prefácio e notas explicativas.

Avaliação: << << << <<

DSC02890Por Gutemberg Fernandes! Apaixonado por literatura fantástica, principalmente a vampírica e de Alta Fantasia! Espero que gostem das obras trazidas por mim até vocês!

9 comentários:

Vulcka disse... [Responder comentário]

Que combinação exótica de personagens.

Taí... to curiosa para ler esses estilos diferentes de leitura: Steampunk e Cyberpunk (tem mais algum?).

Aym disse... [Responder comentário]

fiquei bem interessada. bem diferente. =D
beijos
boa semana

Evany Bastos disse... [Responder comentário]

Oi guria.
Fiquei curiosa pra lêr essa historia.
Depois com mais calma voltarei aqui, seu blog e um charme.
Abraco.

Fernanda Araújo disse... [Responder comentário]

Não conhecia esse livro!
Obrigada pela resenha e pela dica =D
bjs

Nine Stecanella disse... [Responder comentário]

Oi Rê e oi Guto!

Li Neuromancer para um trabalho da faculdade e confesso que não cheguei ao fim como gostaria. O tempo era curto e o trabalho complexo, mas sem dúvida é um livro que vou reler em breve (lá por 2020, quanto terminar tudo que tenho em casa). Não sabia que ele fazia parte de uma trilogia, mas bom saber, já que quando comprar, melhor ter os outros dois em mãos!

Beijo!
~.~
http://janinestecanella.blogspot.com/

Unknown disse... [Responder comentário]

Nossa com certeza um estilo de leitura beeeeeeeem alternativo... e diria de certa maneira, meio nerd. hehehe

Gostei da resenha!

Até!

EllisOliveira disse... [Responder comentário]

Chamou minha atenção, deu até vontade de ler aushauhs'
1 - Parabéns pela postagem Guto
2 - Parabéns pelo Blog Rê :)
Beijooos!
Ellis Oliveira (cataventodeideias.com)

Anônimo disse... [Responder comentário]

Ótimo post! Parabéns! @ThiagoRapsys (participando da promoção Halloween 2011)

Murcilago disse... [Responder comentário]

a trilogia do gibson e foda, nao tem treco mais foca, todos tem q ler

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