E as criaturas insetóides chegavam do céu e do nada, e agora tudo já era cor de sangue, e a chuva vermelha era torrencial. As pessoas morriam aos gritos por toda a ilha, como em breve morreriam em outros lugares. As antigas construções caíam, as tradições e a vida eram substituídas por um cenário de loucura violenta.
Uma jovem é a única sobrevivente de um massacre que dizimou sua família e alguns guardas de sua cidade. O assassino, um homem de pele albina e hábitos estranhos, muito mais bestial do que humano escapou sem sequer ser ferido. Em busca de vingança, justiça, um pouco de glória e algumas moedas de ouro um grupo de aventureiros aceita a missão de caçar o albino por todo o reinado.
Assim tem início uma jornada na qual vitórias e mortes serão constantes. Algumas vezes perto em outras distantes de conseguirem seu objetivo nove, às vezes mais às vezes mesnos, aventureiros irão percorrer todo o Reinado e testemunhar a visão daquilo que é pior do que o próprio inferno. E pelo esforço para salvar um covarde que não pode ser salvo irão condenar todo um mundo.
Então, se preparem para conhecer O Inimigo do Mundo.
De tantos livros que eu já li na vida poucos foram realmente significativos: Azincourt, me fez criar; O Pistoleiro me fez praguejar; O Senhor dos Anéis me fez sonhar e Dragões de Éter com que eu redescobrisse a fantasia por detrás da vida. Porém O Inimigo do Mundo me fez relembrar de tempos idos em que a diversão de um sábado a tarde se dava com dados multifacetados, papel, lápis e borracha além de muita imaginação.
Arton é o nome do continente que serviu de cenário para a criação das maiores histórias do RPG nacional e também do cenário mais completo e desenvolvido que já tivemos no Brasil. Vindo desde os primórdios, quando ainda era o velho 3D&T, passando pela jubilosa era D20 e agora em um novo patamar, sendo um sistema próprio (Tormenta RPG), a Tormenta sempre foi o maior vilão. Por que ela corrompe, destrói e não deixa qualquer rastro do que os locais onde ela surgiu um dia foram. Porém em todos esses anos sua origem assim como seus habitantes permaneceu um mistério que o autor gaúcho Leonel Caldela encarregou-se de desvendar.
Antes, porém devo dizer que embora seja um livro inspirado em RPG, e feito para explicar uma das maiores incógnitas deste, não é uma obra restrita a um nicho de leitores. Mesmo você nunca tendo visto uma ficha de personagem ou rolado um D12 não terá problema algum para entender o que se passa no intricado enredo de O Inimigo do Mundo. Feitas as devidas explicações vamos à história.
O livro se inicia com um prólogo no qual somos apresentados a Glórienn, Deusa dos Elfos, em uma forma decadente, resultado do que sua raça havia passado nos últimos anos devido a um terrível ataque. A Deusa está em busca do conhecimento de uma arma capaz de impedir que a carnificina contra seus filhos se propague e ela obtenha a vitória.
Uma vez de posse deste seu caminho se cruza com o da Deusa do Conhecimento que tenta precavê-la de que tal ato seria um risco enorme. Glórienn não somente refuta o conselho como também se mostra disposta a tudo para alcançar seu maior objetivo: a destruição de seu maior rival o Deus Ragnar e seu general Ironfist.
- Se todos os elfos morrem, vou me tornar Deusa da Vingança. Serei mais cruel que Keen.
Terminada esta passagem a história toma outro rumo. Em uma cidade no reino de Petrynia uma família é chacinada por um assassino esquio, albino e de olhos vermelhos. Mais parecendo animal do que homem e sem aparentar ter um propósito este foge após ser atacado pela guarda da cidade e matar mais algumas pessoas. No rastro de destruição dele porém sobra um elemento: Irynna, filha que após ver seus pais mortos decide investir cada Tibar, moeda do Reinado, na captura daquele que desgraçou sua vida.
Capa da Primeira Edição |
Mas a verdade é que Rufus deveria ter sido um fazendeiro. O mundo, mais tarde, agradeceria muito se ele tivesse sido só um fazendeiro: pelo menos, arruinaria apenas a sua vida.
E enquanto os mortais sofrem e lutam suas próprias batalhas os deuses de Arton se reúnem cada qual por seus próprios motivos tanto a favor como contra a chegada da tempestade rubra, a tão aguardada arma de Gloriénn para por fim em sua guerra. Por fim os deuses que ainda não haviam se manifestado sobre isto se reúnem e deliberam a favor da Deusa dos Elfos e de sua vingança. Porém esta simples decisão pode custar caro no futuro.
Tendo um enredo denso, personagens marcantes por seus modos ou enervantes por sua acomodação e inutilidade O Inimigo do Mundo é uma leitura recomendada para fãs de RPG e prazerosa para aqueles que admiram Alta Fantasia. Em cada página o livro nos traz uma surpresa seja enquanto estamos acompanhando os movimentos do albino em sua busca por conhecimento, seja perdendo o fôlego junto do grupo de Vallen em meio a emboscadas ou batalhas. A trama é complexa, permeada por momentos fortes e somente revelada ao final, quando somos surpreendidos mais uma vez pela capacidade do autor de brincar com nossas expectativas.
Mapa do Reinado - Mundo de Arton |
Um dos pontos altos do livro é a maneira como Leonel Caldela conseguiu trazer para um contexto único e coerente a realidade de Arton, dando vida aos costumes e locais antes somente imaginados na mente de jogadores. Sendo o RPG um jogo cuja principal premissa é contar histórias adaptá-lo para um livro poderia ser um fardo díficil de ser carregado, dada as várias interpretações possíveis. Porém a caracterização feita por ele para os personagens é brilhante principalmente quanto à personalidade e motivações dos poderosos Deuses Maiores, que são muito presentes neste primeiro volume. E com personagens fortes e enérgicos os diálogos não poderiam ser menos importantes; sendo que em muitos casos por mais simples que sejam eles produzem sensações extremas no leitor.
- Eu não me ressinto de você por ela ter morrido – o sorriso permaneciam, e os olhos sorriam também, cheios de candura. – Me ressinto por você ter sobrevivido.(...)- Se tivesse sido você, tudo estaria perfeito. Você não faz falta. Pelo contrário: é só alguém que toleramos. Se tivesse sido você (...) Seríamos só heróis, sem nenhuma vítima. Seríamos só nós, Rufus. Mas você teve que sobreviver.(...)- Entende porque eu o odeio, Rufus Domat?
Sendo considerado o Bernard Cornwell brasileiro, Leonel Caldela possui em sua escrita todos os elementos para atrair fãs do autor inglês e de George Martin, autor de Guerra dos Tronos. Assim sendo pode-se esperar por batalhas bem descritas e por vezes sangrentas como também conspirações e corrupção espalhadas em suas páginas. Se há um livro nacional de Alta Fantasia que me arrependo não ter tido a chance de lê-lo antes com certeza é O Inimigo do Mundo e os outros volumes que completam a Trilogia da Tormenta.
Enfim se você joga RPG e quer se ambientar não há livro melhor; se é fã de literatura fantástica eis uma leitura que irá lhe ocupar por algumas horas e ainda lhe fazer querem que estas não terminem. Se está apenas buscando um bom livro para ler o encontrou com toda a certeza.
Título Nacional: O Inimigo do Mundo
Autor: Leonel Caldela
Autor: Leonel Caldela
Ano de Publicação: 2006 1ª Edição, 2009 2ª Edição
Número de Páginas: 360 páginas 1ª Edição, 464 páginas 2ª Edição
Editora: Jambô
Onde Comprar: Editora - Saraiva
Sinopse: O primeiro sangue é derramado.
Número de Páginas: 360 páginas 1ª Edição, 464 páginas 2ª Edição
Editora: Jambô
Onde Comprar: Editora - Saraiva
Sinopse: O primeiro sangue é derramado.
O massacre de uma família. Um homem sinistro vagando pelo Reinado, espalhando morte por onde passa. Um grupo de aventureiros em seu rastro. E, observando e movendo as peças, os próprios deuses.
O Inimigo do Mundo acompanha a jornada de nove heróis no mundo mágico de Arton, em sua caçada ao estranho albino. Monstros, guerra, feitiçaria, intriga e tragédia aguardam em cada cidade, cada reino. E esta missão pode selar o destino do mundo, atraindo a maior das desgraças.
O primeiro romance oficial baseado em TORMENTA, o maior cenário de fantasia criado no Brasil, revela, finalmente, a verdadeira origem da maior ameaça ao mundo de Arton.
Meu nome é Gutemberg Fernandes, ou para os íntimos Guto. Sou fã de literatura fantástica, principalmente épica ou medieval, além de contista nas horas vagas. No Guria irei trazer para vocês um pouco deste universo de cavaleiros e dragões, espadas e magia. Espero que gostem.
3 comentários:
Adorei o estilo da resenha ^^
Eu ando doida pra ler os livros de Caldela e espero concretizar isto em breve. Mas do jeito que andam as coisas aqui, tá difícil T.T
Beijo gente =**
Né por nada não, mas a capa da primeira edição tá mais bonita.
Nem terminei de ler a resenha e já tô com pena do paladino, paladino só se fode, impressionante!
Nunca joguei 3D&T ou D&D (a pessoa que joga rpgs quase desconhecidos) e mal conheço a Tormenta, mas quero esse livro =DDD
"...batalhas bem descritas e por vezes sangrentas como também conspirações e corrupção espalhadas em suas páginas" me comprou!!! hahaha vai pra lista dos desejados já
beijos
A resenha ta maravilhosa e chamativa, mas também, com um livro bom desses, só podia ser assim né...Adorei a dica, quero ler em breve! Bjo!
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